Vozes do mar, das árvores, do vento! Quando às vezes, n'um sonho doloroso, Me embala o vosso canto poderoso, Eu julgo igual ao meu vosso tormento...
Verbo crepuscular e íntimo alento Das cousas mudas; psalmo misterioso; Não serás tu, queixume vaporoso, O suspiro do mundo e o seu lamento?
Um espírito habita a imensidade: Uma ânsia cruel de liberdade Agita e abala as formas fugitivas.
E eu compreendo a vossa língua estranha, Vozes do mar, da selva, da montanha... Almas irmãs da minha, almas cativas!
II
Não choreis, ventos, árvores e mares, Coro antigo de vozes rumorosas, Das vozes primitivas, dolorosas Como um pranto de larvas tumulares...
Da sombra das visões crepusculares Rompendo, um dia, surgireis radiosas D'esse sonho e essas ânsias afrontosas, Que exprimem vossas queixas singulares...
Almas no limbo ainda da existência, Acordareis um dia na Consciência, E pairando, já puro pensamento,
Vereis as Formas, filhas da Ilusão, Cair desfeitas, como um sonho vão... E acabará por fim vosso tormento.
Redenção I
ResponderExcluirVozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...
Verbo crepuscular e íntimo alento
Das cousas mudas; psalmo misterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?
Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.
E eu compreendo a vossa língua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!
II
Não choreis, ventos, árvores e mares,
Coro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...
Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
D'esse sonho e essas ânsias afrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...
Almas no limbo ainda da existência,
Acordareis um dia na Consciência,
E pairando, já puro pensamento,
Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cair desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.
Antero de Quental, in "Sonetos"