Paulo Batista Gomes

Paulo Batista Gomes

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Resultado da pescaria






























Um comentário:

  1. Redenção I

    Vozes do mar, das árvores, do vento!
    Quando às vezes, n'um sonho doloroso,
    Me embala o vosso canto poderoso,
    Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

    Verbo crepuscular e íntimo alento
    Das cousas mudas; psalmo misterioso;
    Não serás tu, queixume vaporoso,
    O suspiro do mundo e o seu lamento?

    Um espírito habita a imensidade:
    Uma ânsia cruel de liberdade
    Agita e abala as formas fugitivas.

    E eu compreendo a vossa língua estranha,
    Vozes do mar, da selva, da montanha...
    Almas irmãs da minha, almas cativas!

    II

    Não choreis, ventos, árvores e mares,
    Coro antigo de vozes rumorosas,
    Das vozes primitivas, dolorosas
    Como um pranto de larvas tumulares...

    Da sombra das visões crepusculares
    Rompendo, um dia, surgireis radiosas
    D'esse sonho e essas ânsias afrontosas,
    Que exprimem vossas queixas singulares...

    Almas no limbo ainda da existência,
    Acordareis um dia na Consciência,
    E pairando, já puro pensamento,

    Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
    Cair desfeitas, como um sonho vão...
    E acabará por fim vosso tormento.

    Antero de Quental, in "Sonetos"

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