Paulo Batista Gomes

Paulo Batista Gomes

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DEU NO SECULO DIARIO!

10/12/2011

Amarelo 1 x 0 Verde


Geraldo Hasse 


Ouvidos por este colunista na semana que passou, dois fazendeiros, um do Tocantins e outro do Rio Grande do Sul, reclamaram – cada um a seu modo -- do novo Código Florestal, aprovado pelo Senado e submetido à Câmara antes de ser levado à sanção presidencial.

O primeiro, que arrenda suas terras a produtores de sementes de soja, não se conforma com as regras que nivelam a amazônia e o cerrado, “praticamente desocupados”, a biomas lotados por lavouras e pastagens, como a mata atlântica, o pantanal e o pampa. Para ele, o certo seria facilitar a ocupação das terras do norte e do centro-oeste mediante o emprego de tecnologias de ponta que minimizem o uso de mão-de-obra, geralmente  desqualificada. Contrário à reforma agrária, acha que “não faz mais sentido distribuir terras a pessoas que não conhecem lavoura e não querem trabalhar”.

O outro fazendeiro, que cria gado nas coxilhas e arrenda a várzea para o plantio de arroz irrigado, acha injusto submeter as terras do Rio Grande do Sul, “ocupadas há mais de um século”, ao mesmo tratamento (preventivo) aplicado a outros biomas como a amazônia e o cerrado, “só explorados recentemente”. Segundo ele, é absurdo exigir que os proprietários sulinos reponham vegetação em áreas desmatadas há décadas para produzir alimentos. O certo, diz ele, é liberar os agricultores e deixar a reposição vegetal por conta do governo e dos índios, que possuem grandes reservas de terras.

Impossível “negociar” um meio termo com eles. Usando os mesmos óculos latifundiários para focalizar realidades distantes e desiguais, ambos consideram “desperdício” a maioria dos esforços oficiais para melhorar a vida dos desvalidos. “Bolsa-família é esmola”. “Reforma agrária é perda de tempo”.

No máximo eles aceitam o programa da agricultura familiar (Pronaf), que lhes serve como parâmetro reivindicatório – gostariam de pagar juros de 2% ao ano pelo crédito de custeio agrícola. No caso do Código Florestal, reclamam uma lei maleável, que se ajuste a cada região, bioma ou ecossistema. É uma ideia lógica mas perigosa diante do imediatismo e da irresponsabilidade dos gestores públicos brasileiros.

No fundo, porém, essa foi a tese vitoriosa nos bastidores da reforma do Código Florestal. O espírito empresarial, alvo da admiração do brasileiro em geral,  predomina no Congresso e pressiona implacavelmente o Executivo. A única base de apoio do pensamento ecológico tem sido o Ministério Público. O placar Agro 1 x 0 Eco é um placar injusto, torcida brasileira.  

Na prática, o Ambientalismo perde de goleada para o Agronegócio. A Sustentabilidade foi subjugada pelo Desenvolvimentismo Econômico. O Conservacionismo, que chegou a ter bons momentos na primeira metade do século XX, foi colocado em segundo plano diante da urgência produtiva, cujo objetivo não é atender as carências da população, mas engordar receitas no afã do lucro.

Convenhamos, tudo isso é uma irresponsabilidade de empresários e governantes. Crescer, crescer e crescer foi a norma dos últimos milênios, quando o Homem tinha uma escassa percepção dos horizontes do Universo. Agora que já sabe (mais ou menos) como funciona a Terra, o Homem deveria adotar a linguagem futebolística e “botar a bola no chão”, “segurar o resultado”, “recuar os halfs pra evitar a catástrofe”. Mas não, ele quer continuar no ataque, sem olhar para trás.

LEMBRETE DE OCASIÃO

“Se o homem ganhar a batalha contra a natureza, estará do lado perdedor.”

E. F. Schumacher, economista inglês, em Small Is Beautiful (O Negócio é Ser Pequeno

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