Paulo Batista Gomes

Paulo Batista Gomes

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

DEU NO SECULO DIARIO!

14/01/2012

Contradição socialista
Política institucional não se
entende com movimentos sociais


Nerter Samora e Renata Oliveira


Chama a atenção do mercado a relação conflituosa entre o governo do Estado e os movimentos populares. Sem conseguir estabelecer um controle da situação, governo reprime e tenta desqualificar o movimento dos estudantes, indo na contramão da tendência mundial.

Renata: – Nerter, essa manifestação dos estudantes, embora se tente minimizar suas causas e efeitos, tem um viés político-ideológico muito forte, que merece uma reflexão sobre a nova tendência política mundial e a inabilidade do governo capixaba em lidar com o novo momento. A todo tempo ouvimos termos que soam incompatíveis com o governo socialista, comandado por Renato Casagrande, como: baderna, vandalismo, tumulto, perturbação da ordem... coisa da época da ditadura, não combina com o perfil de Casagrande.

Nerter: – Acho que há um descompasso entre o que é colocado como pauta de reivindicação e a imagem que o governo tenta passar do movimento. É evidente que essa ação se consolidou não apenas como o interesse de estudantes, mas como uma forma eficiente de mobilização política, que, aliás, é uma tendência mundial. Percebemos aí dois movimentos interligados, o que circula nas redes sociais e o que toma as ruas de Vitória. E olha que estamos ainda em período de férias. Mesmo que o protesto não tenha aquele volume que alcançou no ano passado, dá para ver o nível de articulação dos participantes.

Renata: – Mais do que um ato público para cobrança de política pública de transporte, o protesto dos estudantes mostra que o Espírito Santo tem pessoas que estão atentas a essa nova tendência mundial, que tirou a política do campo meramente institucional e visa a resgatar a capacidade de mobilização da sociedade em torno de um objetivo comum.

Nerter: – Isso esvazia a justificativa do governo, que, concedendo o passe livre aos estudantes, pensou poder evitar que o protesto fosse para a rua. Pelo contrário, há questões nebulosas que precisam ser respondidas, como esse volume de subsídios – que saltaram agora para R$ 69 milhões por ano. Hoje, a tarifa do Transcol é de R$ 3,05, contando o “auxílio” do governo – isto é, dinheiro que sai de forma direta ou indireta do nosso bolso. Sem falar na malfadada CPI do Transcol, que acabou sendo enviada diretamente para o arquivo. Por isso é que o engajamento dos estudantes e trabalhadores envolvidos no ato não diz respeito apenas à pauta de uma classe social e sim à discussão ampliada do sistema de transporte público no Espírito Santo, que, convenhamos, não é nenhuma maravilha. O capixaba paga uma das tarifas mais caras do País...

Renata: – Em sua coluna aqui em Século Diário, na última terça-feira, Caetano Roque tocou em um ponto crucial dessa discussão: falta transparência e ampliação do debate do Conselho Tarifário. Não basta ter no grupo representantes da sociedade, é preciso que esses representantes não sejam indicados e que as deliberações sejam discutidas com a sociedade, que só toma conhecimento das decisões depois que um aumento lhe é empurrado goela abaixo.

Nerter: – Mas, tarifa à parte, o movimento em si merece uma reflexão sobre a forma como o governo trata o assunto. Chama atenção o fato de o governo não conseguir abrir um caminho de negociação. Nos últimos protestos, o governador recebeu até campeão de beach soccer, mas não recebeu a comissão do movimento que estava nas ruas. É preciso deixar bem claro que os protestos partem da ação orgânica dos estudantes e não das figuras de representação postas. Essa contradição fica clara quando vemos a nota do representante dos estudantes no Conselho, o que corrobora essa não representativadade dos movimentos “organizados” – esse, sim, totalmente aparelhado por partidos políticos. Fico espantado com as falas do comandante-geral da PM, coronel Ronalt William de Oliveira, ao afirmar que os “estudantes foram prontos para o confronto”. Ora, todo mundo que vai para um protesto desses vai preparado para um confronto, ainda mais se for levado em consideração o histórico, o que aconteceu no ano passado.

Renata: – Isso também volta o olhar para o papel da Secretaria de Segurança, comandada por Henrique Herkenhoff , homem que vem do sistema Judiciário e se mostra intransigente no trato com o social. Aliás, não deu as caras neste processo. O aparelho repressor do Estado atuando nas manifestações se mostrou ineficiente e desastroso. A repercussão ruim fica para o governador Renato Casagrande, que vem tocando a vida como se nada estivesse acontecendo.

Nerter: – Aliás, Casagrande começou seu segundo ano de mandato com muitos problemas para resolver, privilegiou acompanhar os estragos causados pela chuva de norte a sul do Estado. Os estudantes cobram uma posição pública do governador, mas, assim como em 2011, devem ficar sem resposta.

Renata: – Mas essa posição não poderá ficar assim, mais cedo ou mais tarde Casagrande vai ter que assumir esse debate. Aliás, ele e a classe política terão de encontrar uma forma de lidar com esse novo movimento político, que é multipardiário e apartidário ao mesmo tempo, porque aos poucos a população vai começar a entender a dinâmica do movimento e utilizar a rua como plataforma de protesto.

Nerter: – É o que estamos vendo e vamos observar como será a repercussão no futuro. Engana-se quem pensa que a população esquece tudo. Pelo contrário. Vamos ver com quem ficará com a conta desta fatura pela frente

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